domingo, 2 de abril de 2017

Nem contra, nem a favor, muito pelo contrário

Não me lembro de nunca ter visto o país em uma pasmaceira tão grande quanto agora. O presidente tem o menor índice de aprovação da história, mas não se vê nas ruas gente clamando pela volta de sua antecessora, cujo índice de aprovação não era  muito diferente. Pequenos protestos aqui e ali em meio a um deserto de ideias, não há praticamente nada que estimule a imaginação, nem otimismo, e curiosamente, nem pessimismo. Será a calmaria que antecede as tempestades? Ou o silêncio obsequioso de quem finalmente amadureceu e abandonou suas utopias infantis?

O momento nacional está bem retratado em uma pesquisa com resultados aparentemente contraditórios que descobri nesse artigo do Jornal GGN. A pesquisa foi realizada sobre manifestantes que compareceram em ato realizado na avenida Paulista no último dia 26. Como o ato foi convocado por organizações de direita, as opiniões deveriam ter ido conformes, mas não foi bem assim.
  Sobre o nível de conservadorismo de cada entrevistado, a pesquisa identificou um nicho de 47% que se disse "muito conservador", 34% de "pouco conservador" e 14% de "nada conversador". 
 Quando questionados sobre posicionamento político, 31% se disseram de direita, 17% de centro-direita e 36,3% disseram "nada disso", negando vinculação a qualquer corrente ideológica. A soma dos que responderam de centro-esquerda ou esquerda chegou ao patamar de 10%. 
 À pergunta "Você é a favor da permanência do presidente Temer no governo?", 46,5% disseram que não e 46,9% disseram que sim, enquanto 6,6% não souberam opinar.
 A união inegável entre os manifestantes certamente apareceu nas respostas à pergunta "Você se considera antipetista?". Aqui, quase 85% responderam "muito antipetista", 5% "pouco antipetista" e 9%, "nada antipetista".
Quando a questão foi "Você concorda com a reforma da Previdência?", 74,8% repudiaram a proposta encampada por Temer, ante 19,3% que concordam com a reforma. Outros 5,9% não souberam responder.
Resultados curiosos. Quase todos se afirmaram fervorosamente antipetistas, como já era esperado, mas também não estão animados com o presidente Temer, haja visto que metade é contra a sua permanência no governo, e rechaçam decididamente a reforma da previdência proposta por ele. Quase todos se declararam conservadores, mas a maioria rejeitou o rótulo de direita. Nem lá, nem cá. Quando a pergunta foi sobre a filiação política, o resultado foi estrondoso:

Diante de uma lista de partidos, 11% disseram ter afinidade com o PSDB. O segundo mais votado foi o partido NOVO (6%), seguido de DEM (1,6%). As demais legendas não conquistaram mais de 1% dos votos. A grande maioria, porém, respondeu que não tem afinidade com nenhum partido: 72,9%.
A única certeza produzida é que há um notório descompromisso com todos os partidos e os políticos em geral. O descontentamento é amplo, mas não há ideias no ar, nem salvadores da pátria. Fica a impressão de um imenso vácuo à frente a ser ocupado... por quem?

Penso que vamos ter mesmo que esperar até 2018. Mas com certeza alguém irá ocupar esse vácuo. A natureza odeia o vácuo, e os que tem horror à política são governados pelos que não têm.

Um comentário:

  1. Acho que todo mundo está cansado e tentando sobreviver. O perigo Dilma já foi retirado e a economia está lentamente se reerguendo. Acho que a maioria está tentando sobreviver.

    Temer cometeu o erro de não saber negociar ao mesmo tempo em que lhe falta pulso (e legitimidade). O Homem Que Nunca Deveria Ter Sido Presidente.

    Os esquerdas não entendem que retirar Dilma era questão de sobrevivência. O governo dela era uma ficção politica. O mercado tinha zero confiança nela. Não mandava mais em mais nada. Temer pode ser um vampiro sem legitimidade popular e marionete globalista, mas ele pelo menos está fazendo alguma coisa - que no fim do dia, é sempre melhor que nada fazer.

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