terça-feira, 19 de julho de 2016

O PT caiu em sua esparrela?

No incerto momento atual, um mistério que ainda não foi desvendado é: qual foi o real agente causador da rápida queda (até agora) do PT, o partido que poucos anos atrás governava o país com amplo respaldo? O mistério fica ainda mais intrigante quando se contata que os principais protagonistas dessa queda foram indivíduos que foram imbuídos de poder pelo próprio PT, indivíduos que em teoria seriam aliados - gente como o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e as turmas do Ministério Público e da Polícia Federal.

O caso é esse: uma das características fundamentais dos governos de esquerda sempre foi o crescimento do setor estatal, o aumento do número de burocratas, o aparelhamento de todos os órgãos da administração pública com funcionários estritamente fiéis ao governo, visando ampliar o controle da autoridade do Estado - ou do partido - sobre todas as esferas da sociedade. O PT promoveu vários concursos públicos e incrementou sobretudo o pessoal do MPF e da PF. Mas ao contrário do previsto, esses funcionários não reproduziram a tradicional subserviência ao governo. Em alguns casos, mostraram-se mesmo como algozes do governo. O que aconteceu de errado? Ou deveríamos perguntar, o que aconteceu de certo?

Mudou o país ou mudaram os funcionários?

Um artigo publicado aqui procura analisar esse fenômeno, atribuindo-o a uma nova geração de "concurseiros", jovens que, na apreciação do autor, entraram no serviço público atraídos pelos altos salários iniciais e pela autoridade do cargo. Essa nova geração teria, então, quebrado os valores tradicionais do funcionalismo público, substituindo-os pelos valores "coxinhas". Por valores tradicionais entenda-se a mentalidade do antigo barnabé, aquele que começava a carreira por baixo, ganhando menos do que na iniciativa privada, e ia subindo devagar à medida em que assimilava os valores da corporação, agindo sempre como um dócil peão da inteira confiança do governo.

O artigo é bastante preconceituoso e foi contestado inclusive por muitos comentaristas de esquerda, como pode ser observado por quem seguir o link. Mas uma questão fica no ar. Como pôde o PT ser traído justamente por seus favoritos, a turma que almeja viver do Estado, aqueles que só entraram no Estado graças aos concursos que o próprio PT lançou?

A resposta não é fácil, e acredito que ainda levará algum tempo para ser encontrada. Por enquanto fica só a impressão de que o PT caiu em sua esparrela: montou a máquina e perdeu o controle sobre ela. Tal como o aprendiz de feiticeiro, começou a mágica e não soube pará-la. Uma coisa, porém, é certa: funcionários públicos nunca devem ter poder excessivo, e sobretudo, nunca devem ganhar mais do que seus símiles da iniciativa privada. Isso é uma contradição, pois não são os servidores públicos que produzem a riqueza do país - sua função não é essa - mas os cidadãos e empresas privados que pagam impostos. Por conseguinte, só há recursos para concursos e bons salários para o funcionalismo onde e quando os cidadãos e empresas privados são prósperos. Do contrário, se estará criando uma situação que não é sustentável indefinidamente, como sempre ocorre quando o gasto supera a provisão. Qualquer governo que embarque nessa onda, de um modo ou de outro, cedo ou tarde, acabará caindo em sua esparrela.

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