sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Confiança, de Fukuyama: nós e a Coréia

Estou lendo bem devagar o livro Confiança, de Francis Fukuyama, tido como o melhor que ele escreveu (embora não o mais vendido) e que encomendei de um sebo, pois está esgotado nas livrarias. Quando saiu em primeira edição, foi tão pouco divulgado que acabei não comprando.

Queria há muito ler esse livro, mas é sempre algo decepcionante quando você entra na expectativa de uma confirmação de suas certezas, e termina, ao contrário, com dúvidas. Foi o que aconteceu no capítulo da Coréia do Sul. Explicando, sempre tive especial apreço por este país, que conheci em duas proveitosas viagens a trabalho feitas em 1992, e sempre o tive como modelo para o Brasil em questões de desenvolvimento econômico - vi na Coréia tudo aquilo que o Brasil poderia ter feito, e não fez. Sempre considerei a causa primária de nosso atraso o modelo de gestão de nossas empresas, dependentes de subsídios estatais, síndrome cuja causa profunda é cultural, apontada por Fukuyama: a falta de confiança entre cidadãos privados em nossa sociedade. O modelo oposto: sociedades de alta confiança, como os EUA e o Japão, onde as empresas são formadas e geridas por múltiplos acionistas e executivos assalariados, sem dependência do Estado. Parecidos conosco são os países do sul da Europa, onde a baixa confiança manteve as empresas confinadas nas mãos pouco competentes dos clãs familiares ou do Estado, e a China, cuja sociedade segue modelo semelhante.

No entanto, o autor reconhece que a Coréia do Sul, estrela dos países emergentes, tem mais semelhanças com a China, modelo negativo, do que com o Japão, modelo positivo. De fato, os chaebol (grandes conglomerados) coreanos foram formados mediante subsídios, proteção, regulação e outras modalidades de intervenção governamental - enfim, nada muito diferente do que tem sido feito por aqui desde os tempos de Vargas. Por que com eles deu certo, e conosco deu errado? Frustrante isso.

Terá sido o fator de diferenciação o ditador Park Chung-hee, que governou a Coréia do Sul entre 1961 e 1979, e é tido como o artífice do milagre econômico por que passou o país? Ditadores, também os tivemos, bem como "milagres econômicos". Será que os ditadores deles são melhores que os nossos? Park Chung-hee, de fato, é reconhecido como um governante repressivo, mas de conduta pessoal austera e competência na condução dos negócios. Mas repugna-me atribuir fenômenos tão amplos à atuação de um único homem, ou super-homem que seja. Vamos ver se até chegar ao final do livro eu encontro uma resposta que me convença. Mas quando passo pelo centro de São Paulo e vejo ali tantos coreanos, não posso deixar de pensar que talvez brasileiros e coreanos não sejam assim tão diferentes...

Um comentário:

  1. No caso do protecionismo na Coréia do Sul ( e de outros do chamados primeiro mundo), vale uma afirmação do Rodrigo Constantino, de que todos esses países cresceram, a desrespeito das políticas protecionistas que praticavam. Mas algumas diferenças entre o desenvolvimento do Brasil e da Koreia podem ser apontadas:

    Enquando o governo Sul Koreano estimulava e facilitava o surgimento de empresa privadas, e tornava o país aberto ao investimento estrangeiro, no Brasil criram-se Estatais como a Embraer, Petrobras, Vale e outras (tornando a economia hyper concentrada).
    Na Educação, A korea tinha 88% de sua população adulta Alfabetiza, enquanto há 6 anos atrás 70% da população brasileira era analfabeta total ou funcional...

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